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A importância do cuidado emocional para a saúde feminina

“Alguns já disseram que o corpo não mente, mais do que isto, ele conta muitas estórias e em cada uma delas há um sentido a descobrir: como o significado dos acontecimentos das doenças ou do prazer que anima algumas de suas portas. O corpo é nossa memória mais arcaica. Nele, nada é esquecido. Cada acontecimento vivido, particularmente na 1ª infância e na vida adulta, deixa no corpo sua marca mais profunda”.

Jean Ives Leloup - O corpo e seus símbolos, 1998, p. 15.

Nos últimos 30 anos tem crescido significativamente o interesse por estudar e compreender os aspectos emocionais nas doenças. No levantamento de pesquisas realizadas na área psicossomática encontramos enorme riqueza e florescimento. Em um primeiro nível, encontramos pesquisas focadas em compreender como eventos psicológicos afetam a fisiologia; em um segundo, a correlação entre o evento psicológico e biomolecular e; em um terceiro, pesquisas que se aprofundam no nível celular, buscando compreender alguns caminhos possíveis na interação psicofisiológica com o nível orgânico (Myers & Benson 1992; Rossi 1986 apud Denize Gimenes Ramos 2006).

Abaixo discorreremos um pouco sobre cada um dos níveis e quais os principais autores para se aprofundar no assunto. Começaremos pelo terceiro nível, até chegarmos no primeiro.

Quando estudamos a psicofisiologia em um nível orgânico, podemos citar como referência: Antonio R. Damasio, Daniel Goleman e Stanley Keleman.

Damásio, médico e importante pesquisador na área de neurociências, passou a se interessar pelo tema razão e emoção após um de seus pacientes sofrer um grave acidente, resultando severa lesão no cérebro. Esse paciente sofreu uma lesão em região cerebral conhecida unicamente como sendo reguladora das emoções. Porém, diferentemente do que todos pensavam, ele passou a ter graves problemas também com a razão. Damásio alega que a área cerebral que regula a razão trata-se da mesma que regula os sentimentos e, ainda, todas as funções do corpo necessárias à sobrevivência. Daniel Goleman, professor e psicólogo PhD pela Universidade de Harvard, traz também exemplos, em seu livro “Inteligência Emocional”, de casos de pacientes que sofreram algum tipo de lesão cerebral na área da emoção e que por consequência acabam sendo lesados também em seu discernimento, raciocínio e tomada de decisões, tendo impacto negativo não somente em sua vida emocional como também na profissional.

Já Stanley Kellman (1992) mergulha não somente nos estudos das funções cerebrais, emoções e seus desdobramentos, mas em todo o corpo humano, criando o conceito de “anatomia emocional”.  Kellman enxerga a vida humana como uma sucessão de formas, que inicia quando estamos na barriga de nossas mães e segue pela vida adulta até o envelhecimento. Segundo o autor, se pudéssemos fotografar a nossa vida e projetá-la, perceberíamos que somos sequências móveis de formas emocionais variadas. Em seu livro, Kellman estuda profundamente a fisiologia humana e sua correlação com traumas, dividindo as nossas posturas corporais em diversos tipos a depender do que vivemos em nossas vidas. Aprofundando e explicando como cada trauma e vivência impacta em nossos órgãos, esqueletos, musculatura e etc.

Já é de sabedoria popular que, quando nos sentimos tensos, a musculatura se enrijece: a cara fecha, os ombros se tensionam, a respiração se acelera. Quando estamos alegres, o corpo se abre, sorrimos e a respiração tem um ritmo mais tranquilo. Quando temos medo, o corpo produz cortisol e adrenalina, o coração acelera, temos a tendência de querer sair correndo. Nesse momento, desencadeamos em nosso corpo a “reação de luta e fuga”. 

Nos primórdios, na época das cavernas, vivíamos próximos aos animais selvagens, nos alimentávamos da caça e fugíamos dos predadores. O corpo necessitava estar sempre pronto para os perigos, recebendo injeções de hormônios e/ou neurotransmissores, para lutar ou fugir. Hoje o mundo é diferente, mas ainda sofremos os efeitos desses neurotransmissores.

Então, o que fazemos agora se o mundo mudou? Como cuidamos dos efeitos desses neurotransmissores e hormônios para não termos impactos negativos em nossa saúde?

Essas respostas nós vamos encontrar nos estudos de um segundo nível, sobre como o estresse e emoções afetam a nossa imunologia. A partir desse entendimento, fica mais fácil buscarmos a solução. Se desejamos compreender a doença por esse segundo nível, temos, como ótima referência para começar, um artigo de Angela Costa Maia, chamado “Emoções e sistema imunológico: um olhar sobre a psiconeuroimunologia”.

Maia levanta mais de 100 estudos e pesquisas sobre os temas psicologia, emoções, saúde e estresse, redigidos nos últimos 20 anos. Após profunda análise, Maia conclui que estresse, emoções negativas e estilos de personalidade repressivos e de isolamento social trazem consequências negativas ao nosso sistema imunológico, uma vez que este se integra ao sistema endócrino e nervoso.

Então, por último, se desejamos compreender a doença, os efeitos da psicologia na fisiologia e como solucionar esses efeitos, encontraremos respostas em autores como Pierre Weil, Jean Ives Leloup, Denise Gimenez, Louise L. Hay, Rudiger Dahlke, entre outros.

Rudiger Dahlke, assim como muitos outros grandes psicólogos, inicia sua carreira como médico, especializando-se, posteriormente, em psicoterapia. Escreveu livros como: “A doença como símbolo”, “A doença como caminho”,” A doença como linguagem da alma”, entre outros.

Nesses livros, Rudiger discorre sobre como, hoje em dia, já não encontramos mais indivíduos 100% saudáveis, algo que tanto a medicina acadêmica quanto a medicina natural concordam. Para ele, a principal diferença entre a medicina usual e a integrativa são as formas como vemos os sintomas. Sua visão de sintoma não é necessariamente negativa, mas sim como um aliado, que nos mostra quando o investigamos, quais são nossas carências e porque ficamos doentes em primeira mão. Se soubermos mergulhar nessas profundezas e utilizar o sintoma como um presente, e não como um fardo, receberemos com ele a possibilidade de crescimento e indicadores de um novo caminho. A questão é: estamos dispostos a mudar e segui-lo?

Perguntas e Respostas

  1. Por que devo me preocupar com minha saúde emocional?

Se nos preocupamos com nossa saúde física, devemos nos preocupar também com a saúde emocional, afinal a saúde emocional é o cerne de nossa saúde física.

Quantas vezes não desrespeitamos nosso corpo, dormindo menos horas de sono que o necessário, para trabalhar, curtir uma festa ou porque estamos estressados, e depois acabamos ficando doentes?

Quantas vezes não sentimos uma gripe, bem naquele momento em que estamos mais esgotados e cansados emocionalmente? Quantas vezes não manifestamos um sintoma após um sentimento de culpa ou mágoa? Reflita sobre a última enfermidade que sofreu, lembre-se do momento que estava vivendo e pense: “o que eu estava vivendo naquele momento?”; “Quais dores emocionais me incomodavam?”; “Qual era a minha grande preocupação?”. Com um pouco de tempo e treino, começamos a perceber que nada é por acaso. E que cada doença que sofremos traz uma grande mensagem e aprendizado para nós.

Alegria, tristeza, raiva, medo, angústia, êxtase... Cada emoção terá um reflexo diferente em seu corpo, seja por meio da liberação de hormônios e neurotransmissores; seja pela tensão muscular ou relaxamento; seja pelos mecanismos mais complexos de interação, que afetam não somente a superfície, como também os nossos órgãos, através de caminhos mais profundos.

Quando falamos de corpo e emoções para a psicologia, começamos pelos estudos psicológicos de Freud, Breur, Jung, desde a histeria até o início dos estudos de psicossomática. Influenciada pela medicina hipocrática, a psicossomática tem, em sua filosofia, uma visão de homem, na qual corpo e mente não se dividem. Tudo abrange psique e soma, ou seja, tanto a saúde quanto a doença fazem parte de processos mentais e somáticos que são unificados e que formam a totalidade, que é o ser humano. Dessa investigação, vê-se o corpo biológico como um escoador para fantasias não nomeadas e até mesmo simbolizações.

Tomando como base a psicanálise psicossomática, você poderá estudar autores como Alain Miller, Pierre Marty, Joyce Mcdouglall e Christophe Dejours.

Tomando como base a psicologia simbólica junguiana, sugiro autores como Ana Patricia C. Bogado, Denise Gimenez Ramos, Jean Yves Leloup, Louyse L. Hay e os livros: “Corpo em Jung – estudos em calatonia e práticas integrativas”, da Maria el Spaccaquerche (organizadora); “A saúde de mulher”, de Rudiger Dahlke; e as revistas junguianas “Jung e corpo”.

Para entrar nesse tema, temos que aprofundar um pouco mais na psicologia analítica. A psicologia simbólica junguiana, enxerga o ser humano como um ser dual. Onde há o masculino e o feminino (anima e animus), o que se apresenta e o que está escondido (máscara e sombra), o jovem e o velho (Puer e Senex), o vilão e o herói.  Tudo se trata de uma questão de equilíbrio. Todos nós, homens ou mulheres, temos nosso lado masculino e feminino. Jung compreende que o arquétipo do animus e anima, independentemente de uma imagem “ideal” de homem ou mulher, nos é formado tomando como base nossas experiências com nossa mãe e pai e a influência e herança de nossa cultura. Alguns podem questionar que essas ideias de feminino ou masculino são baseadas em estereótipos arbitrários, quando, na verdade, elas foram baseadas no mito de “Eros” e “Logos”.

Eros, o feminino (anima), é baseado na receptividade, criatividade, relacionamento e completude, que podem se apresentar pela sensibilidade, empatia, capacidade de se relacionar e demonstrar sentimentos e emoções. Logos (animus), o lado masculino, se apresenta pela força, convicção, voragem e vitalidade (dentre outras características).

Independentemente de ser homem ou mulher, manifestaremos os dois lados, que sofrem forte influência de nossa cultura e criação. Ao desejar a saúde plena, devemos buscar por um equilíbrio.

Pensando, então, nas enfermidades relacionadas ao aparelho reprodutor feminino, a primeira pergunta é: como está a nossa relação com o nosso lado feminino e a anima? Até o momento, como foi a sua relação com o masculino em sua vida?

Entrando mais a fundo, no simbolismo corpóreo da região do ventre, vemo-nos como um lugar de grande importância. Nele se encontram nosso pai e mãe e muitos de nossos problemas digestivos podem estar relacionados ao nosso relacionamento com eles.

Lembre-se dos momentos em que sentiu “tomar um soco no estômago”, ou que o nervosismo lhe trouxe uma “dor de barriga”. Todos nós temos dificuldades em digerir certos temas e os motivos para isso nem sempre estão puramente no alimento físico.

“Há pressões que nos sufocam, nos dão vontade de vomitar. Há algo a ser evacuado. Não podemos evacuá-lo pela palavra, por gritos ou lágrimas e não nos resta senão vomitar. Há memórias muito fortes que se inscrevem nesta parte do corpo. Portanto, trata-se de escutar o ventre. Ele é duro ou mole? Se ele se fecha, ele se defende”. (Leloup, 1998).

Já aprofundando-nos na região do útero, vemo-nos como o local da gestação, da fertilidade e da criatividade. Como estamos cuidando de nós mesmas e nos gestando? Há espaço a este cuidado interno? Há espaço para a criatividade? Diversão? Prazer? Há algo em falta ou em excesso?

O útero é o centro de nossas emoções. O centro de nossa vitalidade é, ao mesmo tempo, o órgão que providencia a acolhida, receptividade e nutrição do bebê (aspectos essencialmente Yin ou da anima), como também é o local que provoca o nascimento do bebê, a execução, faz o bebê nascer. É nele que se concentra a criatividade e a originalidade da mulher. Portanto, vale refletir: como você está cuidando de sua própria vida, de seus sonhos e projetos? As energias Yin e Yang ou Animus e Anima estão equilibradas? Há algo que não está conseguindo gestar ou digerir? Como estão suas emoções e sentimentos? Há magoas não externadas ou verbalizadas? Algo que é preciso resgatar antes de seguir em frente com seu próximo projeto a gestar?

Não somente para a saúde feminina, mas para o ser humano com um todo, o melhor tratamento é sempre o tratamento médico integrativo. Por meio do médico especialista, compreendo como posso cuidar dos meus sintomas para poder seguir em frente; com a nutricionista, entendo como posso cuidar de minha alimentação; com o fisioterapeuta, professor de yoga ou educador físico, descubro como posso cuidar do meu corpo e prestar mais atenção nele e, a partir do (a) psicólogo(a), recebo auxílio para melhor me compreender e analisar a fundo o que está ocorrendo. O melhor tratamento é sempre aquele que busca o equilíbrio, a autoanálise e descoberta de si mesmo e do que ocasionou o sintoma, para, assim, melhorar sua vida e poder prosseguir.

Para manter-se saudável, uma das principais recomendações é: cuide de si mesmo(a) e busque o autoconhecimento. Na abordagem da psicologia junguiana simbólica, a doença não é vista como uma grande punição, mas, muitas vezes, como uma ferramenta de autoconhecimento ou até como um grande presente. Reflita: “o que essa doença está querendo me dizer?” “Como estou me sentindo?” “Como era minha vida e minha rotina antes dela surgir?” “O que tenho que mudar?” “Qual grande aprendizado estou recebendo por meio dela?”.

Doenças e enfermidades fazem parte da vida, assim como os ciclos de alegria e tristeza. Não há um ser humano que passará uma vida inteira de alegrias ou uma vida inteira de tristezas; os ciclos e momentos se revezam, assim como a saúde e a doença. Portanto, “cuide de si mesmo” é a maior recomendação. Procure o autoconhecimento, busque ter um boa noite de sono, busque o equilíbrio entre vida pessoal e trabalho, uma alimentação balanceada, atividades físicas e movimentos (sem exagero). Algumas ferramentas poderão te auxiliar com isso. Encontre a que melhor lhe agrada:

- Para o autoconhecimento, você poderá utilizar a terapia, as leituras edificantes e de questionamento do ser, a espiritualidade, a meditação, os exercícios de respiração, as pinturas, a escrita, o silêncio e os momentos consigo mesmo(a).

- Para as atividades físicas, busque aquilo que te completa e te dá prazer, seja o yoga, o tai chi chuan, o qi gong, as danças, as artes marciais, as caminhadas, as corridas, a natação, as atividades em equipe (mas, claro, sempre sem exagero, afinal nenhum esporte de auto rendimento se torna saudável).

- Para a alimentação, busque ao máximo os alimentos naturais e não industrializados e, se necessário, busque uma nutricionista para melhor auxiliá-lo na alimentação.

- Para um boa noite de sono, todo o restante vai ajudar.

E uma vez que mergulhar no autoconhecimento e buscar cuidar de si, todo o restante será mais fácil.

Bibliografia

Vídeos:

Canal – Fernanda Brito Azevedo

https://www.youtube.com/watch?v=X5rfVV1L75Y&t=38s – TFT para útero e próstata.

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